INTRODUÇÃO
Discutir a
função do pedagogo frente à diversidade curricular é fundamental quando se
pretende ter uma postura crítica diante do processo ensino aprendizagem que
acontece dentro da escola.
Nesse
processo de ensinar-aprender, o pedagogo possui diferentes objetivos e entre
eles, organizar o processo de aplicação do currículo pela sua equipe escolar.
Mas isso não é tão simples quanto parece, pois a aprendizagem se faz além dos
processos didáticos e fora das regras metodológicas, ou seja, a aprendizagem
acontece no aluno de dentro para fora por meio de experiências externas
possibilitadas pelo professor na aplicação de atividades interativas que
permite o contato, a reflexão e a tomada de consciência do objeto a ser
apreendido.
Portanto,
acredita-se que o “sujeito cognitivo passa a ser entendido não apenas como um
sujeito racional, mas também como um sujeito psicológico, social, político,
isto é, relacional haja vista que é fruto do processo entre subjetividade e
objetividade” (SANTOS, 2009, p. 157). Isso estende ainda mais as funções do
pedagogo diante da realidade curricular para que esta possa possibilitar a
abertura do ser em busca de novas visões, de novos conhecimentos para que novas
dúvidas sejam postas nesse ser a fim que a sua curiosidade não se feche, mas
abra oportunidades para novas descobertas e novas conclusões.
O PAPEL DO PEDAGOGO
Frente à
diversidade cultural, política e subjetiva que cada aluno traz consigo, assim
como cada professor também carrega enraizada em seu ser, o pedagogo é o
profissional responsável por abrir caminhos frente a essas diversidades de modo
que elas sejam expostas ao mundo como processos conscientes de são elementos
constituintes do ser e que por isso não podem ser descartados nas relações
humanas, nem mesmo entre os pequeninos aprendizes dos anos iniciais de
escolarização.
Mas para
isso o pedagogo atenta-se para o currículo, ou seja, para aquilo que se deve
ser ensinado como ponto principal e também para a metodologia, ou seja, para o
como se deve ensinar.
Assim agindo,
o pedagogo proporá à sua equipe uma possibilidade de ação que considere a
utilização de “técnicas adequadas que permitem o estudo de alternativas e
tomadas de decisão. [...] Uma metodologia que permite a apropriação do
conhecimento e seu manejo criativo e crítico” (GUIRRO, 2009, p.71).
O papel do
pedagogo desse modo é mais do que dar vistos nos planejamentos dos professores
ou de simplesmente assinar fichas exigidas pela burocracia da regência escolar,
mas sim de “derrubar paredes” da escola de “saltar seus muros” (GUIRRO, 2009,
p.71).
Em outras
palavras, o papel do pedagogo é de quebrar velhos paradigmas que retardam ou
diminuem a capacidade de interação entre alunos e professores e buscar outras
possibilidades de interação por meio de tecnologias modernas, por meio de
recursos gratuitos que convoquem todos (alunos e professores, funcionários e
comunidade escolar) a interagir com a escola. Isso mostra que o pedagogo está
atualizado com as novas interações sociais, novas formas de contatos socais,
novos conhecimentos que podem ser apreendidos com essas situações.
Guirro (2009,
p.95) também pensa assim e diz claramente: “diante das novas possibilidades, a
educação não pode mais viver do passado, negando a existência das tecnologias,
pois formaria pessoas desconectadas da realidade em que se inserem”.
Cabe então,
ao pedagogo, aprender a manusear essas tecnologias modernas e com elas mostrar
novos caminhos para a educação usando-as como ferramentas de aprendizagem.
Um exemplo
que ilustraria esse contexto:
No estado de
Minas Gerais, assim como em muitos outros, existe uma lei que proíbe o uso de
celular dentro das escolas. Se a função do pedagogo é quebrar paradigmas isso
significar correr riscos e mudar posturas para que a aprendizagem seja feita e
o aluno tenha maior consciência de sua responsabilidade enquanto cidadão.
Ao invés de
proibir celulares os professores usassem tais
aparelhos para enviar mensagens aos seus alunos sobre a correria na hora
do recreio, que com toda certeza o aluno pararia de correr para atender ao
telefone e assim veria que mesmo estando distante o professor está perto; se ao
invés de fazer lembretes de reuniões pedagógicas e murais poluídos visualmente
de tantos panfletos, recados, lembretes e outros assuntos, o diretor enviasse
msn para cada um de seus professores comunicando o dia e a hora da reunião? O
professor em sala de aula, ao invés de falar oralmente para chamar a atenção em
sala de aula enviasse um “emoticons” para aquele aluno que está atrapalhando a
aula. Pelo simples fato de ele interromper a conversa para pegar o celular ou
para ler a mensagem já esfriaria um pouco a conversa e o colega também ficaria
mais atento. Ao invés de proibir o uso de calculadoras dentro de sala de aula,
que tal o professor ensinar os alunos a usarem as funções MRC, M- e M+? Que tal
o aluno receber todas as informações de um trabalho e dica de estudo para a
próxima prova no e-mail, facebook ou Orkut? Que tal o professor postar seus planos
de aula em blog e assim o aluno poderia ter acesso a ele e poder até adiantar
os conteúdos que serão trabalhados em sala de aula e lá postar suas dúvidas e
críticas e dar sugestões para a aula que ainda será dada?
Ao pedagogo
cabe discutir todas essas novidades tecnológicas com seus professores e, mais
do que isso, o pedagogo deve estar preparado para ensinar seus colegas de
trabalho a usarem essas tecnologias, pois muitos dos professores não as usam
porque não sabem usá-las. Talvez a falta de conhecimento e de prática entre os
professores no manuseio dessas tecnologias esteja atrapalhando o
desenvolvimento curricular das disciplinas e impedindo que as aulas sejam mais
criativas e modernas, que as aulas estejam mais ao gosto dos alunos que dominam
razoavelmente bem essas tecnologias sejam porque já possuem computadores em
casa sejam porque frequentam LAN house.
Sendo assim
o papel do pedagogo não se restringe às condições de aprendizagem dos alunos,
mas também de toda a equipe de funcionários da escola que deve se manter
atualizada com as novas tecnologias e capaz de se interagir com os alunos de
modo eficiente, prático e com as atualizações tanto de linguagem quanto de ambientes
propícios à comunicação e desse modo aproveitando melhor as oportunidades para
coordenar e apresentar novas possibilidades de comportamentos considerados mais
éticos, morais e políticos dentro do contexto escolar.
A DIVERSIDADE CURRICULAR
Se o
pedagogo possui em suas obrigações zelar pela ampliação das relações humanas
dentro da escola, o currículo também deve proporcionar as mesmas condições.
Isso quer
dizer que a escola deve possuir uma grande curricular flexível e capaz de se
adequar às realidades cotidianas para que a interação e a troca de informações sejam
fortes aliadas do processo educativo para a “interação construtiva constitua o
pressuposto do discurso e da prática de ralações democráticas na escola”
(SANTOS, 2009, p. 88) fazendo com que a grade curricular deixe de ser grade
para se tornar um leque de opções de conhecimentos que abre em torno de um tema
comum.
Mas isso não
é tão simples quanto parece, pois segundo Santos (2009, p.98) diz que no
currículo
Encontra-se
impregnado o problema da relação teoria-prática, pois conceber o currículo
demanda que se tenha uma concepção de mundo, sociedade e educação e, considerar
os fundamentos filosóficos, ideológicos, sociológicos, epistemológicos,
antropológicos, políticos e institucionais / administrativos. [...] nele está
imbricada a questão política da racionalidade da ação. Ele concerne, também, às
decisões educativas sendo, portanto, afeto a questões de planejamento
(concepção) e operacionalização / desenvolvimento (processo).
Ou seja, a
construção de um currículo não se deve estar pensando apenas nos conteúdos a
serem trabalhados didaticamente dentro da sala de aula, mas também nas
possibilidades desses conteúdos serem levados para a ampliação social do espaço
extraescolar do aluno, proporcionando a este novas possibilidades de sucesso
dentro da comunidade em que esteja inserido.
Por isso é
comum a existência de diferentes tipos curriculares, mas aqui não serão postas
em evidência estas distinções porque não mais se pode pensar em um currículo
preso a dogmas ou a regras rígidas.
Como já foi
mostrado, a educação necessita de novas possibilidades de interação e de novos
investimentos cognitivos por parte dos professores e pedagogos para que as
aulas se tornem mais atrativas e que as relações humanas sejam aquecidas com o
uso de tecnologias modernas.
A
diversidade curricular também deve estar atenta a essas questões, às questões do
relacionamento afetivo por meio de tecnologias que privilegiam a distância, mas
que podem despertar o interesse para o aprendizado e para a interação social
mais calorosa.
O currículo
ainda deve pensar nas diferenças encontradas dentro das escolas e essas
diferenças tendem a ser diminuídas quando se tem um educador consciente de seu
papel, que nos dias atuais as informações são rapidamente repassadas e assim
não se pode ser dono absoluto das verdades, mas sim reconhecer-se como “um
educador-educando” que
Permite
que o educando, enquanto aprende, também ensine, tornando-o um educando-educador.
[...] Isso implica em todo educando e educador como sujeitos de saberes,
inacabados como seres humanos, com possibilidades de formarem-se como sujeitos
críticos, reflexivos, capazes de refletirem sobre sua própria prática, no
sentido de transformá-la. ( SANTOS, 2009, p. 128)
Então não se
vê mais a necessidade de distinção entre os currículos, pois todos acabam se
unindo quando se considera o ser humano como cidadão capaz de ser livre e na
sua liberdade ousa pelos caminhos da autenticidade fundindo saberes científicos
aos conhecimentos empíricos e do senso comum para que sua prática social busque
uma atuação real por meio da eficiência, mas respeitando as regras éticas,
morais e da boa convivência.
O pedagogo
deve estar atento ao currículo escolar para que este, ao ser registrado, mostre
apenas os saberes cientificamente consagrados em depreciação dos saberes
popularmente considerados parte da cultura de uma região. Cultura e currículo,
costumes locais e disciplinas escolares, dogmas de fé e ciência, cabem todos no
planejamento de bom currículo escolar que preza pela diversidade e pela
integração do aluno como membro de uma comunidade. E a comunidade é dicotômica
em muitos pontos e nem por isso perde o seu caráter de unidade mesmo sendo
formada por indivíduos particularmente independentes, mas que no conjunto
formam um todo bem articulado.
CONCLUSÃO
Pode-se
então fechar esse texto dizendo que o pedagogo possui uma responsabilidade
social, uma responsabilidade pedagógica, uma responsabilidade tecnológica, uma
responsabilidade política e uma responsabilidade metodológica com cada um dos
seres humanos que estão dentro da escola.
Para que
esse profissional dê conta de todas essas responsabilidades com mais eficiência
e praticidade deve contar com os recursos tecnológicos e com a sua capacidade
de agir frente ao grupo para propor mudanças nas estruturas educacionais de
modo que os alunos possam se envolver mais com os assuntos escolares e assim se
tornarem mais participativos.
Todas essas
mudanças podem estar no currículo escolar que a partir do núcleo comum podem se
estender a discussões mais reais da vida local onde a escola está inserida e ao
fazer isso o currículo tomará dimensões que ultrapassarão os muros da escola e
envolverão toda a comunidade.
Ao mudar o
foco do currículo das realidades científicas universais para o contexto social
e histórico local o pedagogo envolve a todos na tentativa de descobrir soluções
para problemas locais por meio de recursos e técnicas universais.
Com isso o
pedagogo deve estar atento para que a diversidade curricular não seja abafada pelos
saberes científicos; nem que as novidades tecnológicas sobreponham as
interações sociais afetivas na escola. Mas buscar um caminho pedagógico que
vise a democratização do ensino é seu principal objetivo.
REFERÊNCIAS
GUIRRO, Antonio Benedito. Administração
de benefícios e remuneração: RH. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
SANTOS, Adriana Regina de Jesus. Currículo,
conhecimento e cultura escolar. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.